O ceratocone (KC) é uma doença ocular que causa encurvamento e afinamento excessivo da córnea, levando a um astigmatismo irregular bem como uma miopia progressiva. Costumo dizer que os pacientes com KC têm uma córnea frágil e fina. É um problema relativamente frequente nos consultórios de oftalmologia, e suas formas são bem variadas podendo se apresentar como casos leves, ou em casos mais agressivos podem levar a cegueira.
Sua incidência na sociedade pode variar de 9 a 2000 indivíduos por 100 mil, e é a uma das principais causas de indicação de transplante de córnea em vários países do mundo. Esses números tendem a aumentar, uma vez que os métodos de diagnósticos cada vez mais se modernizam.
É uma doença bilateral e assimétrica, em que a córnea evolui para uma forma cônica. Tipicamente presente em adolescentes e progride até a terceira ou quarta década de vida.
O KC é uma doença multifatorial, ou seja, vários fatores podem contribuir para o seu aparecimento. Resulta da interação do ambiente, fatores genéticos em conjunto com alguns hábitos comportamentais. Os fatores que podemos evitar ou amenizar seriam os fatores do meio-ambiente e certos comportamentos como uso de lentes de contato e o fato de coçar os olhos e controle das alergias. Os fatores genéticos não podemos evitar, mas eles são cada vez mais comprovados em estudos como sendo grandes influenciadores do desenvolvimento da doença, cerca de 10% dos casos de “cone” possuem um componente hereditário.
O KC pode aparecer isoladamente ou em associação a algumas outras doenças como atopia (alergias), síndrome de down, retinose pigmentar, síndrome de marfan, etc.
Os sintomas do KC são astigmatismo isolado ou em conjunto com miopia caracterizando uma baixa acuidade visual para longe – os sintomas mais comuns do ceratocone, logo o paciente terá uma visão distorcida para longe e para perto. O astigmatismo progride para valores mais altos (mais de 3,0 graus) e possuem um difícil tratamento. Nos consultórios, nós oftalmologistas, suspeitamos também quando o paciente não possui graus altos, e mesmo assim, não chegam a visão normal e perfeita, que chamamos de visão 20/20.
Cada vez mais pacientes que coçam os olhos devem ser considerados suspeitos, dada a relação que a doença tem com este hábito. Então se juntarmos, pacientes com alto astigmatismo ou miopia que coçam os olhos, estes devem ser investigados incontestavelmente para essa doença.
Dois fatores principais são para a progressão da doença são
1 – Coçar os olhos
O fato de cocar os olhos é comprovadamente um ato extremamente traumático, quando consideramos que os pacientes com “cone” possuem uma córnea (região da frente do olho) frágil, então o paciente com cone que coça o olho está praticamente se automutilando -isso que consideramos que acontece. Pacientes com esse problema não podem de forma alguma coçar os olhos, sob risco de piora permanente de sua visão.
2 – Pouca idade (crianças)
A idade é um fator muito importante quando consideramos a progressão da doença. As crianças ou pacientes mais jovens evoluem muito mais rapidamente para estágios mais avançados da doença. Por outro lado, quando a doença acontece nos adultos, temos quadros mais brandos de ceratocone.
O diagnóstico de ceratocone é feito por um médico oftalmologista em uma consulta de rotina. O paciente poderá ter os sintomas descritos acima – visão embaçada para longe e perto, com um astigmatismo (geralmente maior que 3). O médico solicita exames de imagens como topografia, paquimetria ou tomografia de córnea, com fins de avaliar parâmetros dos olhos como suas curvaturas e espessuras.
Os pacientes devem ser avaliados em exame de rotina com oftalmologistas, e realizar sempre exames de imagens como topografia, paquimetria ou tomografia de córnea. Essas avaliações podem ser anuais em casos de doenças mais estáveis (pacientes já com muito tempo de doença) ou até exames a cada 3 meses em casos de ceratocone iniciais, recém descobertos. O objetivo é saber se a doença progride de forma rápida, lenta ou se já está estável.
Quando falamos em tratamento para ceratocone temos que dividir em dois tipos de tratamento, o tratamento para parar a progressão da doença e o tratamento para melhorar a visão do paciente.
É o Crosslinking de córnea, uma cirurgia moderna e segura, que tem como objetivo aumentar a rigidez da córnea através do uso de luz ultravioleta associada a riboflavina (foto-indutor), provocando aumento das ligações das fibras de colágeno da córnea, deixando a córnea mais resistente, e por fim, parando ou diminuindo a progressão da doença. Esse procedimento é indicado em crianças ou em adultos em que a doença está progredindo.
Para esse objetivo temos várias opções, e essas opções serão adequadas as necessidades do paciente em conjunto com a gravidade da doença.
1 – Óculos
Eles são a primeira opção no tratamento, indicado para todos os níveis da doença, desde de casos leves iniciais até os casos mais avançados, porém em níveis avançados, não conseguimos melhorar a visão de forma perfeita apenas com os óculos.
2 – Lentes de Contato
A lente de contato rígida é uma excelente opção para tratar a imensa maioria dos casos de ceratocone. São indicadas para pacientes que estão insatisfeitos com a visão dada pelos óculos. Lembro que esse tipo de lente, não é aquelas lentes que se acham no comércio. Elas devem ser adaptadas por oftalmologistas especialistas em lentes de contato, em seguida são solicitadas de forma personalizada para cada paciente.
3 – Cirurgia de Implante de anel corneano
Também chamado de implante de anel de ferrara, é uma opção usada para os pacientes que não se adaptam as lentes de contato nem aos óculos.
4 – Cirurgia de Transplante de córnea
O transplante de córnea é uma opção de tratamento para a minoria dos casos de ceratocone. Indicado para casos avançados que não melhoram a todas a opções anteriores – casos graves com bastante afinamento da córnea e pacientes com visão muito ruim.
Dr. Pedro Paulo Cabral