“A miopia está crescendo no mundo, e o crescimento está sendo muito rápido! Em 2020 tínhamos 1.5 bilhões de míopes no mundo e em 2050 as previsões apontam para 5 bilhões de míopes no planeta” Palavras de Dr. Pedro Paulo Cabral. Entenda por que isto está acontecendo, como isso pode influenciar sua vida ou dos seus filhos.
Miopia é a dificuldade de enxergar de forma nítida objetos distantes, tem como principal mecanismo o alongamento do olho, ou seja, pacientes míopes tem olhos maiores que o “normal”. Atualmente, afeta por volta de 25% da população mundial, e estima-se que em 2050 esteja afetando cerca de 50% da população de todo o planeta. É considerada endêmica no planeta e também um problema de saúde pública mundial.
Miopia com mais de 6 graus é classificada como alta miopia, e a miopia com menos que 6 graus é a miopia mais frequente e com menos riscos. Estudos como “the Rotterdam Eye Study” associou a miopia no geral com inúmeras doenças oculares (descolamento de retina, maculopatias, hemorragias retinianas, catarata e glaucoma), demonstrando também que quanto mais cedo a miopia aparece, mais severa será seu grau de doença na idade adulta.
Muitos estudos vêm mostrando alguns fortes fatores para o aumento e o desenvolvimento da miopia no mundo. Assim como a maioria das doenças na medicina, a miopia possui fatores genéticos e esses são somados a fatores ambientais. Falando dos fatores genéticos familiares, foi encontrada uma associação positiva em miopia nos pais e maior risco de desenvolvimento da doença nos filhos. Tendo em vista que fatores genéticos não são facilmente modificados e tratados, os esforços para combater a miopia devem ser focados na prevenção dos fatores ambientais que promovem o crescimento dessa doença.
De fato existem muitos estudos mostrando a influência genética da miopia, tanto com heranças quantitativas, complexas ou mendelianas clássicas (autossômicas dominantes ou recessivas) como heranças relacionadas ao X. O estudo “Twin Eye Study” demonstrou uma hereditariedade de 90% em gêmeos univitelinos (monozigotos). Existe uma maior incidência de miopia em asiáticos, podendo acometer mais de 60% da população em alguns países, isso pode ter uma justificativa étnica genética assim como ambiental relacionada aos costumes culturais.
Existe uma forte reação do crescimento da miopia com hábitos culturais de uso da visão de perto, bem como práticas de atividades Indoor, ainda não se sabe ao certo qual é o maior influenciador entres esses dois fatores, visto que eles se relacionam e se sobrepõe.
Estudos como o “The Guangzhou randomized trial” observando crianças por um período de 3 anos, evidenciou como um fator de proteção a miopia, atividades Outdoor quando estudaram grupos de crianças, ou seja, crianças que tinham mais horas de atividades ao ar livre desenvolvia menos miopia. O estudo mostrou uma redução de 23% na incidência de miopia para essas crianças.
Atividades ao ar livre, são bastante relacionadas a mais exposição a luz solar, e a luz também pode ser um fator de inibição no desenvolvimento da miopia. A luz externa vem sendo cada vem mais relacionada, como um fator independente, a inibição da progressão ou desenvolvimento de miopia, por provável atuação na dopamina, neurotransmissor relacionado ao aumento do comprimento do olho.
Mais fatores do ambiente são cada vez mais relacionados a miopia, quando estudos em crianças na Indonésia relevaram maiores incidência de miopia nas áreas urbanas comparadas as áreas rurais.
Atividade de trabalho ou leitura de perto vem sendo excessivamente investigado como um fator de risco independente do aparecimento da miopia. Inúmeros estudos com os de Singapura, Austrália demonstraram que crianças que tinham mais horas de leitura/escrita por semana possuíam maior incidência de miopia. De maneira geral, vários estudos demonstram uma forte associação entre grupos de níveis educacional mais altos e maior prevalência de miopia; esses resultados podem ser explicados por diferentes fatores, incluindo o aumento do tempo olhando para perto (seja para telas eletrônicas ou para livro) e também uma concomitante redução das atividades ao ar livre nesse grupo de indivíduos mais instruídos.
A miopia tem vários tratamentos eficazes, e atualmente os médicos oftalmologistas devem “encaixar” os pacientes míopes de acordo com suas necessidades. Deve ser considerada a faixa etária dos pacientes e os objetivos ocupacionais de cada paciente. Os tratamentos são divididos em dois grupos:
1) Parar a progressão da miopia (evitar com que o grau aumente) e 2) Reabilitação visual (melhorar a nitidez da visão para longe).
A fim de se evitar a progressão da miopia, o uso de colírios de Atropina vem se comprovando como uma alternativa eficiente e segura em crianças com miopia. Habitualmente o tratamento é feito por 2 anos, geralmente são tratadas as crianças de 6 a 15 anos de idade, e deve ser documentado o comprimento axial do olho com exames específicos (ultrassonografia ocular ou biometria ocular). Os colírios de atropina são manipulados em uma concentração específica, por isso são adquiridos com receita médica em farmácias de manipulação específicas para oftalmologia.
Quando pensamos em melhorar a nitidez para longe desses pacientes existem três alternativas, todas elas são muito eficientes.
A primeira alternativa é o uso de lentes corretivas com óculos de grau, para miopia são usadas lentes negativas divergentes.
A segunda alternativa para pacientes míopes são o uso de lentes de contato, elas são tão eficientes quando os óculos e são indicadas para pacientes que não querem usar óculos ou aqueles que praticam atividades esportivas ao ar livre.
A terceira opção para tratamento da miopia seria a cirurgia refrativa de correção visual a laser. Esta é indicada para pacientes com mais de 18 anos de idade. A cirurgia é muito moderna e precisa, devendo ser indicada para pacientes com olhos sadios e que estão cansados de usar óculos ou lentes de contato.
Dr. Pedro Paulo Cabral – Oftalmologista